O regime saído do 25 de Abril teve uma grande dificuldade inicial em lidar com esse Dia de Portugal que sempre foi um emblema da ditadura. Os primeiros três anos pós-revolução foram difíceis: a 10 de junho de 1974 aconteceu uma manifestação “convocada por várias forças democráticas”, que foi do Marquês de Pombal até ao Palácio de Belém dar o seu apoio ao MFA. A 10 de junho de 1975, o governo Vasco Gonçalves apelou ao país para que fosse trabalhar em nome da “batalha da produção”.
O feriado nunca deixou de ser feriado mas, como disse o então secretário de Estado Carlos Carvalhas, “a posição que se assume perante a batalha da produção é o que distingue os verdadeiros dos falsos revolucionários”. Em 1976 estávamos em vésperas das primeiras eleições presidenciais e ninguém ligou nenhuma ao 10 de Junho.
Só há 40 anos, em 1977, nasce a fórmula atual e regressam as comemorações oficiais. O dia passa a chamar-se Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, e as cerimónias decorrem na Guarda, com Ramalho Eanes no cargo de Presidente da República e Mário Soares no de primeiro-ministro.
O discurso mais impressionante será o do escritor Jorge de Sena, que passa uma boa parte do tempo a justificar que a democracia tem todo o direito de celebrar Camões e que gostar de Camões não é coisa de reacionários. Aqui está uma coisa que nunca foi preciso explicar ao poeta-resistente Manuel Alegre, que sempre se assumiu como um “camoniano”, tem Camões como uma das suas maiores referências e ontem recebeu o Prémio Camões, o maior da literatura portuguesa. Celebrar Manuel Alegre com Camões em vésperas do 40.o aniversário do novo 10 de Junho é um acontecimento feliz.
Ana Sá Lopes, Ji
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