Passámos de pessoa para indivíduo, com o crescente (imparável?) fenómeno de privação ou relativização da personalidade; agora estamos em transição de indivíduo (ou seja, de ser individual, dotado ainda de alguma autonomia ética e de ação) para “membro de qualquer coisa”.
Já não somos pessoas, já não somos indivíduos; agora limitamo-nos a ser membros do Antifa, membros do grupo socialista da Trofa, membros do grupo da direita regeneradora do Barreiro, membros do Facebook, membros do Instagram, membros da Associação LGBT, membros do Benfica, membros do Porto, membros da Sanjoanense, membros da Associação Recreativa disto e daquilo… somos membros de tanto grupo que às tantas nos esquecemos de que somos pessoas com uma ligação jurídica especial a um Estado, através de um vínculo designado por cidadania.
Somos, antes do mais, pessoas; e a nossa personalidade reflete-se democraticamente na e pela nossa qualidade de cidadãos. A desqualificação da personalidade e da cidadania constitui a verdadeira ameaça à democracia – e o maior presente para os inimigos da liberdade (marxistas, trotskistas rendidos aos luxos burgueses à la Bloco de Esquerda, socialistas dominados pelos interesses especiais e os demais totalitários que se dão bem com os BE…), pois permite-lhes controlar mais facilmente a sociedade. Aí onde não há personalidade, onde não há individualidade, não haverá necessariamente liberdade.
A democracia, infelizmente, passou a reduzir-se a uma agremiação de pequenas ditaduras; é uma agremiação de movimentos, grupos de base não democrática, difusos, mais ou menos informais, que regulam a nossa vida até ao mais ínfimo pormenor.
(Excertos do artigo de João Lemos Esteves, hoje no Ji)
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