Não sei se foram recebidos pelo Presidente da República e pelo primeiro--ministro quando se sagraram campeões da Europa de futsal para atletas com trissomia 21, mas sei que rapidamente foram esquecidos, pois a sua participação no campeonato do Mundo a realizar este ano – onde irão tentar fazer melhor do que no último, em que ficaram em segundo – esteve em causa por 35 mil euros que não apareciam de lado nenhum. São campeões, representam o país, mas não podiam ir ao Brasil porque a Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Intelectual não conseguia arranjar o dinheiro necessário para as deslocações e alojamento.
E foi esta incapacidade do Estado – repare-se que estamos a falar de 35 mil euros – que levou um empresário algarvio, Eliseu Correia, a disponibilizar a verba que permite aos jogadores portugueses terem “direito ao sonho – todos somos filhos de Deus. Fiquei completamente siderado quando li a história – nem sei se fiquei mais chocado ou triste – e nem quis saber quanto era: só de imaginar que os miúdos não podiam ir ao Campeonato do Mundo porque o país deles os tinha abandonado e não lhes dava hipótese de realizar o seu sonho por causa de dinheiro... Foram cinco minutos: vi aquilo, virei-me para a minha esposa e disse ‘isto não pode ser, não podemos deixar que isto aconteça’”, diz ao i.
Vivemos, de facto, num país estranho em que os mais desfavorecidos são atirados para debaixo do tapete e só quando alguém tropeça na alcatifa é que se fala do problema. Se os jogadores com trissomia 21 não representassem o Estado português, ainda poderia dizer-se que o dinheiro não chega para tudo. Mas que raios, são meros 35 mil euros para pagar as viagens e alojamento de campeões europeus!
Felizmente, a sociedade civil também conta e Eliseu Correia vai permitir que o sonho dos craques com trissomia 21 possa ficar mais perto da realidade e, quem sabe, tragam o título de campeões do Mundo. Talvez aí sejam recebidos em Belém e São Bento.
Fonte:Vítor Rainho, Ji
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