domingo, 2 de junho de 2019

O Regime Não Consegue Chamar As Pessoas A Participar Nas Decisões Do País ,Governado Por Uma Ruidosa Minoria Que Só Olha Para Si Própria

A coisa está reduzida aos diretórios partidários e seus adeptos mais próximos. O regime não consegue chamar as pessoas a participar nas decisões do país, governado por uma ruidosa minoria que só olha para si própria. Este é o triste resultado dos políticos que temos e das campanhas eleitorais, como aquela a que acabámos de assistir. 

Manuel Falcão, J Negócios

A coisa mais engraçada que saiu das eleições europeias do passado fim-de-semana foi a reviravolta da arrumação partidária, com o Bloco a subir, o PCP a descer, o CDS a esvair-se e o PAN a crescer. 

O cenário é de tal monta que António Costa iniciou os trabalhos de produção do novo "reality show" que vai dominar a política portuguesa até Outubro. Chama-se "Quem Quer Casar Com o Primeiro" e tem um concurso complementar intitulado "A Roda da Geringonça". Os canais disputam os formatos e multiplicam-se os interessados. 

No Domingo, surgiu mais um candidato surpresa ao casamento do "reality show" - o PAN, que entrou na lista dos candidatos a charneira do regime - e que já está a ocupar o espaço mais esverdeado, aproveitando o facto de o partido melancia estar cada vez mais vermelho por dentro e menos verde por fora. 

Piadas à parte, a realidade é dura: os directórios partidários choram sobre a abstenção, mas a última coisa que querem é mudar a lei eleitoral, adequando-a a novos tempos - nomeadamente, estudando alternativas ao método de Hondt, que protege os partidos instalados e dificulta a entrada de novas organizações no círculo do poder. Feitas as contas e tendo em consideração que a abstenção ficou pouco abaixo dos 70%, a verdade nua e crua é esta: se tomarmos como base o total dos recenseados, o PS obteve 10,47% dos votos dos eleitores, o PSD ficou nos 6,88, o Bloco vive com 3,08%, a CDU está reduzida a 2,16%, o CDS a 1,94%. Na verdade, menos de 25% dos eleitores optou por um qualquer dos partidos que se apresentaram. 45 anos depois de 1974, o regime considera-se legitimado com a participação de apenas um quarto dos cidadãos. 

A coisa está reduzida aos diretórios partidários e seus adeptos mais próximos. O regime não consegue chamar as pessoas a participar nas decisões do país, governado por uma ruidosa minoria que só olha para si própria. Este é o triste resultado dos políticos que temos e das campanhas eleitorais, como aquela a que acabámos de assistir. 

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