Portugal vai viver uma situação semelhante à de Espanha e Itália, é a convicção de Jorge Buescu. Ao Observador, o físico e matemático explica como faz as contas e reafirma a importância dos testes.
Se testamos apenas as pessoas que vão ter ao hospital porque já se estão a sentir mal é como se estivéssemos a ver a ponta do iceberg. Toda a parte grande está submersa. Os 6.400 casos que sabemos hoje que temos correspondem a uma ponta do iceberg.
A Solução?
Nesta fase, será difícil. Não se podem fazer testes às cegas, tem de ser com muito critério. A OMS recomenda, por exemplo, que um critério que se deve seguir é: assim que se deteta um infetado, vai-se localizar e testar todas as pessoas com quem ele esteve em contacto nas últimas 48 horas. Porquê? Se ele está infetado, nas últimas 48 horas andou a propagar a doença. Os sul-coreanos fizeram isso extraordinariamente. Foi o único país que conseguiu dominar uma fase avançada da epidemia só com testes. Num regime absolutamente férreo, mas conseguiram fazer isso. Foi extraordinário.
Tem sido feito o suficiente ou é preciso agravá-las já nesta quarta-feira?
A minha opinião é que as medidas são demasiado brandas. Se houve coisa que tenhamos aprendido com a experiência dos outros parceiros foi que para os que andaram com medidas gradualistas as coisas fugiram completamente ao controlo. Com esta quarentena à portuguesa, em português suave, nós corremos um risco muito grande. Ontem estive a ler um artigo de Sydney, e os australianos estão preocupadíssimos, porque isto está a chegar lá agora. E uma conclusão que me impressionou imenso, uma coisa que eu tinha estimado nas costas de um envelope e eles ali fizeram mesmo cálculos, foi que a eficácia das medidas não é proporcional à intensidade das medidas. Isto é, se tivermos distanciamento social razoável, se as pessoas respeitarem 70% ou menos, aquilo tem um efeito quase nulo. Não é proporcional, 70% ou nada é quase a mesma coisa. Depois, de repente, dá um salto grande e quando o distanciamento social é acima de 80%, já tem um efeito enorme. Nós não sabemos neste momento se as nossas medidas foram o suficiente para estar acima ou abaixo dos 80%. E eu aqui, com toda a franqueza, gostaria de errar para o lado da prudência e gostaria de ter medidas bastante mais restritivas. (leia aqui texto completo)
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