Belém e São Bento têm um entendimento da acção política como um drama estático em que as ideias, ideologias e afins, se perspectivam como bens absolutos independentes da ordem material e da sequência histórica. Mais importante do que a Democracia, para a qual não pode existir valores políticos universalmente absolutos, exclusivos, para Belém e São Bento os valores políticos são a visão ambígua de uma sensibilidade descentrada pelo caleidoscópio de um nacionalismo eurocêntrico e pela vertigem sonâmbula do poder. Esta união política tem um preço que se cobra com o dedo em risque na forma de uma sentença contra todos os democratas defensores da diferença e do debate político.
Em Portugal a Direita está assim, sem plano, sem pronúncia, talvez no luxo de uma deriva perigosa que haverá de acabar no inferno de uma ilha deserta.
O líder do PSD não está infectado pelas ideias políticas, não tem qualquer posição de relevo ou influência política, não perspectiva uma ocupação próxima como inquilino de São Bento, nem esbanja os sentimentos primários da espécie no reino profundo das Autarquias. Belém é o que resta da Direita democrática. Só que a Direita democrática não sabe como retirar dividendos políticos da “Magistratura de Influência” do Presidente da República. Pelo contrário, o Presidente da República parece ter origem num outro partido que não o PSD, um partido que concilia em termos de identidade política a social-democracia com a democracia-cristã, mais um certo catolicismo social à esquerda que tanto seduz e encanta o Primeiro-Ministro. Nesta equação política, o PSD, liberal, social, agnóstico, não tem lugar, não tem função nem ministério, limita-se a ser a personagem que descobre o cadáver no arbusto, chama as autoridades e recolhe-se rapidamente no jantar político mais próximo denunciando a falta de segurança e os instintos selvagens dos Portugueses.
A política em Portugal desafia a gravidade, tal como os pássaros no azul político do céu. Como escreve William Shakespeare em Hamlet, existe uma previdência especial até na queda de um pássaro. Se é agora, não vai ser depois; se não for depois, será agora; se não for agora será a qualquer hora. Estar preparado é tudo. Que os Portugueses estejam preparados.
(Excertos do texto de Carlos Marques de Almeida no ECO)
2 comentários:
"... o Presidente da República parece ter origem num outro partido que não o PSD...".
Quem tem mudado, e muito, foi o Partido PSD não foi MRdS. Mudaram também todos os outros partidos em Portugal, embora em diferente grau, diga-se.
O presente PR, e todos os outros PRs, foram eleitos numa eleição nominal. O eleitor escolheu a partir de um conjunto de traços biográficos conhecidos e da personalidade, patente na campanha, de cada um dos candiadatos.
Trata-se de uma escolha eleitoral que cria, consequentemente, alguma responsabilidade mútua. De quem escolhe e de quem é escolhido.
Em contraste o PSD -ou qualquer outro dos partidos que concorrem a eleições em Portugal- historicamente já tiveram tantos traços "biográficos" quantas as personalidades dos seus multiplos líderes. Pode-se até votar nas Legislativos num partido com um líder, um determinado Presidente, e ter que conviver com um outro, até um improvável responsável nesse cargo. Inconsequência, incongruência (do sistema) eleitoral, cujas más consequências são sobejamente conhecidas.
Anónimo:É Verdade o que escreve.Mas... para o ano há uma nova eleição e é preciso pensar bem e de acordo com as convicções de cada um, tendo também em conta o país como um todo e os candidatos que se apresentarem a escrutínio. Uma coisa tenho a certeza - não votarei sem convicção. Nunca naquele que possa ser um 'mal menor'.
mfm
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