O desconfinamento tem correspondido, genericamente, a um novo aceleramento revisto e refinado. As tomadas de decisão escudam-se em justificações alimentadas pelo medo e pela necessidade, que, como dizia Hannah Arendt, são uma combinação perigosa no sentido do condicionamento da liberdade individual e colectiva, vital para o momento que vivemos. Estes são dias em que se precipitam opiniões e decisões, muitas por fundamentar, a uma velocidade vertiginosa, numa definição de prioridades que parece obedecer a quem grita mais alto e disputa de forma mais eficaz espaços na comunicação social e nas esferas económica e política. O mais desconcertante é que esta urgência é maquilhada, apresentando-se como estritamente necessária, como o único caminho possível, e até afirmada como humanista perante a calamidade decretada.
Se é verdade a urgência de uma resposta imediata, concertada e sem hesitações, quando se agravam necessidades reais e concretas na vida de muitos cidadãos, não é menos verdade que é também este o momento, face à paragem com que fomos confrontados, de exigir e construir um trabalho aprofundado que contemple mudanças estruturais nos modos de produção e na relação connosco e com os outros.
Hugo Cruz, Público
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