terça-feira, 26 de dezembro de 2023

A Frase (268)

A democracia portuguesa é uma camada fina à flor da pele. O país real não tem relação com o país imaginário da Europa. Sempre distante da história, o país é o paraíso com o sol sem manchas, uma estátua com traços de mau gosto. A realização política é sempre inferior e a obra feita é sempre a sombra escura da obra sonhada.      (Carlos Marques de Almeida, ECO)

No país político bloqueado surge a AD. Uma velha aliança para um novo país. A direita clássica coliga-se para fazer frente ao desconhecido. A solução parece óbvia e saída do compêndio político das soluções testadas. A AD encaixa no espírito do tempo. (...)

Mas que não haja ilusões relativamente às credenciais democráticas dos partidos progressistas. 

A democracia de Abril destruiu as pontes e construiu os muros. A democracia portuguesa está transformada numa realidade formal que ainda vai poupando o país às consequências de uma guerra civil que vive nos discursos.

E onde fica o país neste estado democrático? Não fica para além de um apêndice incómodo que resiste pelo voto às soluções políticas perfeitas à esquerda e à direita. O país estagnado que empobrece, que paga impostos, que é razão de ser de um estado permanece à deriva porque ninguém é responsável por nada. O apuramento das responsabilidades políticas não existe na democracia portuguesa. O governo é um passaporte para a impunidade. (...) 

A negação da responsabilidade política divide o país entre o estado e a sociedade e divide a sociedade entre poderosos e dependentes. Para a esquerda tudo são direitos. Para a direita tudo são deveres. A“dialéctica estéril” da responsabilidade política representa o impasse de um país com poucas tradições democráticas, com um estado forte, com uma sociedade civil fraca, um país sem apólice e sem seguro.

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