(...) A investigação científica tem relacionado, de forma relativamente consistente, o consumo de alimentos ultraprocessados com a ocorrência/agravamento de doenças crónicas como a obesidade, a doença cardiovascular, distúrbios gastrointestinais ou doença imunoalérgica.
Criam-se assim condições para que passemos de situações de falta de segurança alimentar maioritariamente por escassez de alimentos para situações em que esta insegurança está, cada vez mais, relacionada com a má qualidade nutricional. Este último contexto associa-se a efeitos deletérios para a saúde, marcados pela obesidade e comorbilidades várias e consequente incapacidade laboral e absentismo. No fundo, um ciclo vicioso fundamentalmente imputável aos chamados determinantes sociais da saúde.
Assim, e ainda que seja necessária uma mudança no processamento alimentar e desenvolvimento de produto (e não um utópico e contraproducente retrocesso), urgem medidas que atuem no gradiente socioeconómico da obesidade e no aumento da literacia nutricional e alimentar da população. Não é suficiente dizer às pessoas para não consumir determinado produto porque faz mal, se é o que elas podem comprar, se lhes vai durar mais tempo, se é o que agregado familiar vai gostar – nomeadamente porque falta educação alimentar às crianças – e se até compram ao engano porque não sabem como ler rótulos. Só reconhecendo e intervindo em todas estas áreas é que conseguimos reduzir o consumo dos processados.
A alimentação será sempre muito mais do que nutrição.
(Inês Pádua, OBSR)
Sem comentários:
Enviar um comentário