sábado, 9 de março de 2024

A Relação Dos Alimentos Ultraprocessados Com A Ocorrência De Doenças Crónicas


(...) A investigação científica tem relacionado, de forma relativamente consistente, o consumo de alimentos ultraprocessados com a ocorrência/agravamento de doenças crónicas como a obesidade, a doença cardiovascular, distúrbios gastrointestinais ou doença imunoalérgica.

O ultraprocessamento tende a incorporar nos alimentos aditivos como conservantes e aromatizantes de baixo custo (como os já mencionados açúcar, gordura e sal) produzindo alimentos mais económicos, com grande palatibilidade (muito apetecíveis), de elevada conveniência, durabilidade e praticidade. A estas características acresce ainda o peso do marketing alimentar, particularmente para as camadas mais jovens. (...)

Criam-se assim condições para que passemos de situações de falta de segurança alimentar maioritariamente por escassez de alimentos para situações em que esta insegurança está, cada vez mais, relacionada com a má qualidade nutricional. Este último contexto associa-se a efeitos deletérios para a saúde, marcados pela obesidade e comorbilidades várias e consequente incapacidade laboral e absentismo. No fundo, um ciclo vicioso fundamentalmente imputável aos chamados determinantes sociais da saúde.

Assim, e ainda que seja necessária uma mudança no processamento alimentar e desenvolvimento de produto (e não um utópico e contraproducente retrocesso), urgem medidas que atuem no gradiente socioeconómico da obesidade e no aumento da literacia nutricional e alimentar da população. Não é suficiente dizer às pessoas para não consumir determinado produto porque faz mal, se é o que elas podem comprar, se lhes vai durar mais tempo, se é o que agregado familiar vai gostar – nomeadamente porque falta educação alimentar às crianças – e se até compram ao engano porque não sabem como ler rótulos. Só reconhecendo e intervindo em todas estas áreas é que conseguimos reduzir o consumo dos processados.

A alimentação será sempre muito mais do que nutrição.

(Inês Pádua, OBSR)

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