terça-feira, 2 de julho de 2024

A Frase (150)

O mais importante, e aquilo que está em causa tanto em França, actualmente, ou em toda a Europa é isto: o acto difícil de se querer ser humano em tempos de total apostasia social.   (Gonçalo Soares Jesus, OBSR)

Votar não pode ser tão só um favor do eleitorado, em formato de acto-resposta, quanto a um apelo desesperado de terceiros. Votar, e escolher em quem votar, tem de ser um acto oferecidamente ponderado, consciente, quanto a um programa político sério, discriminado, e não uma adesão quase tácita a uma súplica eleitoral exigida em grito de socorro provindo de cartazes rasgados a metades. (...)

O que se quer dizer, sem rodeios: apelar ao voto, por si ou por interposta gente, sem compromissos palpáveis que demonstrem paixão real pelo futuro humano, é não levar as pessoas a sério, o que as fará, inevitavelmente, entregar o seu destino a quem melhor apele e não a quem mais nelas pense. França, que explicitamente anuncia aquilo que se expandirá Europa fora, anuncia, ainda mais, que inexiste melhor altura para o futuro da democracia. Evidentemente, é tempo de tornar o mundo democrático mais íntimo e próximo do eleitorado. (...)

Aqui, precisamente, começa a salvação da democracia, ou de França, ou de Portugal, ou da Europa ou até da espécie: no encontro de um valor que se sobreponha aos gritos selvagens de uma vida sempre imposta por terceiros. Só a partir daí acontecerá o verdadeiro encontro do humano pelo humano, no seio do próprio humano, que passará a ser o que nunca foi: humano-humano.

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