Cada época, como cada idade da vida, tem o seu secreto e indizível e injustificável sentido de equilíbrio. Por ele sabemos o que está certo e errado, sensato e ridículo. E isto não é só visível no que é produto da emotividade.
O homem é, no corpo como no espírito, um equilíbrio de tensões. Só que as do espírito,
mais do que as do corpo, se reorganizam com mais frequência. Equilibrado o espírito,
mete-se-lhe uma ideia nova. Se não é expulsa, há nela a verdade. Porque a verdade é isso:
a inclusão de seja o que for no nosso mecanismo sem que lhe rebente as estruturas.
Ou: a coerência de seja o que for com o nosso equilíbrio espiritual. A verdade é um modo de estarmos
a bem connosco. Mas é um mistério saber o que nos põe a bem ou a mal.
Os anúncios de há cem anos eram ridículos porque sim. Nos meus escritos de há anos,
mesmo nos ensaios, aquilo de que me separo não são muitas vezes as ideias, a argumentação,
mas um certo modo de se olhar para os argumentos, os problemas, um certo nível humano
de encarar as coisas.
Os anúncios de há cem anos eram ridículos porque sim. Nos meus escritos de há anos,
mesmo nos ensaios, aquilo de que me separo não são muitas vezes as ideias, a argumentação,
mas um certo modo de se olhar para os argumentos, os problemas, um certo nível humano
de encarar as coisas.
Leio um ensaio de há vinte anos e sinto que eu tinha menos vinte anos.
Há um nível etário para a mesma verdade nos existir. A verdade de que falei há vinte anos
é-me exactamente a de hoje; e todavia há um desfasamento no modo como corri para ela e me entusiasmei com ela e me comovi com ela. Tudo agora me acontece ainda mas num registo
diferente. Não é em si que as verdades envelhecem: é com as rugas que temos no rosto e na alma.
Há um nível etário para a mesma verdade nos existir. A verdade de que falei há vinte anos
é-me exactamente a de hoje; e todavia há um desfasamento no modo como corri para ela e me entusiasmei com ela e me comovi com ela. Tudo agora me acontece ainda mas num registo
diferente. Não é em si que as verdades envelhecem: é com as rugas que temos no rosto e na alma.
(Vergílio Ferreira)
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