Portugal já é uma república de juízes. Um ciclo político está a chegar ao fim. E está a chegar ao fim da pior maneira possível e imaginária. A política em Portugal está entregue a personagens pequenas sem visão ou decência. Não há estadistas, não há heróis políticos que representem uma ideia para o país. A superfície democrática esconde a oligarquia dos interesses e das influências. É como se a democracia fosse um grande bazar com reservados para os grandes negócios. Os grandes negócios beneficiam uma pequena elite e a República sofre a demência de um regime novo que sempre foi velho. Velho nos vícios, velho nas ambições pessoais, velho na miséria de quem vem de baixo, velho sem mundo, velho com dinheiro novo. Com a sociedade bloqueada, só a política fornece o elevador social. E o elevador social é a vergonha da Nação. (...)
A crise de Regime é o fim de um ciclo. E o fim de um ciclo é o fim de uma era. (...)
A decadência da democracia portuguesa exige o estabelecimento de um novo equilíbrio na relação entre os cidadãos, os representantes políticos e o Estado. Neste momento, a democracia de Abril é uma caricatura em farrapos, uma “falsa fantasia”, um formalismo eleitoral, um Parlamento com conversas de café, uma campanha eleitoral marcada pelo tacticismo de curto prazo. O novo ciclo exige trabalho político que a política se tem recusado a fazer. Nos dias de hoje, Portugal é uma democracia em transição.
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