Um país à beira de um ataque de nervos - É mais fácil acreditar que Bem e Mal nascem connosco; essa crença demite-nos do nosso papel social, da nossa humanidade, do diálogo com filhos, pais, vizinhos, colegas, amigos e até inimigos.
Então, acham que isto ainda é um país ou já é só um pedaço de terra onde um monte de pessoas quer atirar-se às goelas de outro monte de pessoas? Bom, sobre o transe coletivo da noite de 18 de maio. Porque é que lhe chamo transe? Porque, sinceramente, o transtorno de tristeza ou de alegria pelos resultados eleitorais pareceu alterar o estado de consciência de muita gente. E neste momento é mesmo preciso que a consciência não nos falte.
Uma pequena adenda sobre tudo isto — as redes sociais estão a matar-nos, tanto politicamente como humanamente. A rede social é uma terra de ninguém, onde não há leis (se as há, eu não vejo nenhumas). Ali, há difamação, crime de injúria e ameaças de morte todos os dias e adivinhem, fica tudo na mesma. (...) Pois é, o mundo agora é isto, como é que queriam que fosse diferente na política? Fazemos publicidade a produtos de gaming e de maquilhagem como nunca fizemos na vida a livros. Há mais influencers em cada esquina do que juízo. Passou-se dos limites.
Portanto, temos mais ou menos um terço do país a sentir que está num tal clima de tragédia que é como se estivessem a ver bombas a cair ao lado deles, temos outro terço do país a rir-se dos democratas que agora não gostam dos líderes que a democracia elegeu… Sinto que estou num carro desgovernado, e em chamas, a ver os meus concidadãos enlouquecer de raiva uns pelos outros.
O ódio gratuito é uma forma de medida do quanto uma sociedade está doente e eu já ouvi e continuo a ouvir coisas inenarráveis e desumanas por parte de apoiantes do Chega, mas o que é que se está a passar com as pessoas de todos os outros quadrantes políticos quando decidiram achar normal responder na mesma moeda? Agora está na moda desejar a morte de alguém? Está na moda dizer que há votos que deviam ir para o lixo? Quando as pessoas começam a interiorizar dentro de si que são superiores aos outros temos o caldo entornado — quando acreditam que existem mesmo votos que não contam para nada, vidas execráveis que mais-valia não existirem, votantes que deveriam ser mandados para o asilo. (Escertos do texto de Leonor Gaião, OBSR)

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