Existe um 'Portugal Arcaico'. Quem compreenda-sentindo este conceito e tome contacto com as festas, ritos e tradições seculares do povo português, não tem dúvidas acerca desta realidade. Outros tantos lugares mágicos e monumentos antigos testemunham a existência desse mesmo arcaísmo no passado.
Esse arcaísmo ainda está vivo em certas camadas da população, sendo disso exemplo as festas do Divino Espírito Santo nos Açores, embora a sua força tenda a desvanecer-se no meio de uma sociedade materializante e anti-natural.
O arcaísmo que sobreviveu em Portugal, apesar do racionalismo redutor dos últimos séculos, é um autêntico tesouro, mas às novas gerações já não basta 'praticar o rito', necessitando de compreendê-lo.
No arcaísmo, o 'céu' e a 'terra', o visível e o invisível, o concreto e o simbólico, a vida e a morte, fazem parte de um todo que é a VIDA.
O povo português, anti-dogmático, sincretizou na sua religião popular um cristianismo místico com a sua longa tradição pré-cristã.
Teixeira de Pascoaes, captou isso mesmo: o sentimento religioso lusitano de tendência naturalista conseguiu a "sublime unidade (promessa de uma nova luz) entre o princípio cristão e o pagão. (...) Quem estudar as lendas e as festas populares (romarias) logo vê o nosso Cristianismo colorido de vivas tintas pagãs.»
Fonte: Portugal Terra de Mistérios, Paulo Alexandre Loução
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