Para mim, Para Ti, Para O Comum Dos Mortais
De repente, alguém - ou o vento - atira-nos ao leito de um rio, graças à matéria de que somos feitos, em vez de irmos ao fundo, flutuamos; isso já nos parece uma vitória e, por isso, de repente, começamos a correr; deslizamos velozes para onde a corrente nos arrasta; de vez em quando, um molho de raízes ou uma pedra obrigam-nos a parar; ficamos para ali durante algum tempo, batidos pela água, e depois a água sobe e liberta-nos, e continuamos em frente; quando o curso é tranquilo, vamos à superfície, quando surgem os rápidos, submergimos; não sabemos para onde vamos e nunca ninguém pergunta; nos troços mais calmos, conseguimos ver a paisagem, os diques, os silvados; mais do que pormenores, vemos as formas, o tipo de cor, vamos demasiado depressa para vermos outras coisas; depois, com o passar do tempo e dos quilómetros, os diques vão ficando mais baixos, o rio vai alagando, ainda há margens, mas, por pouco tempo.
« Para onde vais ?» perguntamos então a nós próprios e, nesse instante, à nossa frente, abre-se o mar.
Susanna Tamaro
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