sexta-feira, 22 de março de 2013

A Persistência Confusa Da Subjectividade Objectiva


Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... 
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, 
E assim será possível; mas hoje não... 
Não, hoje nada; hoje não posso. 
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva, 
O sono da minha vida real, intercalado, 
O cansaço antecipado e infinito, 
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico... 
Esta espécie de alma... 
Só depois de amanhã... 
Hoje quero preparar-me, 
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte... 
Ele é que é decisivo. 
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos... 
Amanhã é o dia dos planos. 
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o rnundo; 
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã... 


O porvir... 

Sim, o porvir... 

Adiamento,Álvaro de Campos 


Este poema encarna a personalidade de um político que bem conhecemos. Ele é assim, é mesmo assim, nasceu assim. Não, não é má pessoa. Percebemos muito bem como neste momento difícil pressionado por todos os lados, esteja a viver um momento de muitas dúvidas. Sim, ele sabe, que tem um enorme peso (pesadelo) às costas.

Sem comentários: