É preciso, em primeiro lugar, começar por dizer claramente o que foi que
prendeu, ou agrilhoou, o País. E aqui, é incontornável assumir a dupla armadilha
em que Portugal caiu na década passada: a armadilha do endividamento e a
armadilha europeia, que de resto - e não por acaso - se reforçaram
mutuamente.
A verdade é que o País se endividou para lá do razoável, tanto em termos
públicos como em termos empresariais e privados. E fê-lo perdendo quase
inteiramente a noção do risco e da responsabilidade que uma tal via implicava,
acreditando cegamente na metáfora do "escudo invisível" com que se publicitou a
adesão ao euro e à união monetária - um escudo que, ao primeiro embate, se
revelaria de plasticina.
O essencial do problema tem pois a ver com a miragem política que envolveu o
projecto europeu, e em particular com a ilusão criada por boa parte da esquerda,
que quis ver na Europa, sobretudo depois dos desaires sofridos no âmbito
nacional - lembremos François Mitterrand em França , mas não só!... -, o
catalisador de um novo élan político.
E o problema nasce com o facto, que na verdade não podia ser mais paradoxal,
de se investir numa imaginária Europa de esquerda no preciso momento em que o
ultraliberalismo a configurava nos seus traços fundamentais: apologia da
abertura e do livre-cambismo sem limites, das privatizações, da
desregulamentação generalizada, da financeirização da economia, etc.
"Libertar Portugal da austeridade" implica hoje uma plena consciência deste
equívoco e das suas consequências. Sem ela nada é possível, continuaremos num
carrossel de ilusões e de impasses. (continuar a ler aqui)
E, Augusto Mateus explica porque 'O Projecto de Portugal europeu é um semi-falhanço'
Entre falhanços e quedas, nós estamos de cabeça à roda e profundamente magoados.
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