Quem te amar, ó liberdade, tem
de amar com paciência.
Sonhou-se tanto contigo sem saber
como saber-te, que é muito grande o
perigo de não ver o sonho antigo nos
braços em que hão-de ter-te.
Quem te amar, ó liberdade, tem
de amar com paciência.
Alguns tão livres te querem que
só desordem restava. Outros tal
ordem preferem que de tanto que
a referem o velho tempo voltava.
Quem te amar, ó liberdade, tem
de amar com paciência.
Tantos, tantos se proclamam teus
amantes confessados, que os que em
verdade te amam mal se ouvem
quando te aclamam, nem por teus
serão contados.
Quem te amar, ó liberdade, tem
de amar com paciência.
Riqueza querem de ti, sem pensar
como fazê-la. Mas muitos que
sempre vi engordando por aí são
quem contínua a tê-la.
Quem te amar, ó liberdade, tem
de amar com paciência.
E a paz? Contaram contigo para assiná-la num instante. Mas quem é
mais teu amigo sabia-a duro castigo
que só o tempo garante.
Quem te amar, ó liberdade, tem
de amar com paciência.
Jorge de Sena
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