O banco público sairia da esfera pública, passando os gestores a usufruir de novas regalias que tinham desaparecido nos últimos anos. Como a culpa podia ser atribuída ao BCE, a esquerda encolheu-se.
Imagine-se que todo este processo, em vez de ser liderado por um governo PS que existe apenas por ter o apoio do PCP e do Bloco de Esquerda, era gerido por um governo PSD ou PSD/CDS. Cairia - para a esquerda - o Carmo e a Trindade. E bem.
Agora, já não é assim: uma das coisas notáveis dos últimos tempos tem sido observar a quantidade de sapos que a esquerda - principalmente PCP e Bloco de Esquerda, mas também o PS - tem sido obrigada a engolir. Digamos que, no ponto em que estamos e ainda a meses da aprovação do Orçamento do Estado para 2017, a esquerda já terá engolido mais sapos vivos do que em 200 eleições presidenciais de Mário Soares. Aquela segunda volta de 1986 aconteceu uma vez - os sapos, que não são impostos pelo BCE, têm sido comidos aos montes.
Não tendo particular apreço pela instituição Banco Central Europeu, é possível concluir que três das recomendações fazem parte do mais elementar bom senso - e até agora também faziam parte de um certo consenso de esquerda. O BCE exige mulheres na administração executiva e rejeita a acumulação de cargos dos gestores.
O que Mario Draghi fez ao impor a quota de 30% de mulheres foi o que o governo PS prometeu que faria nas empresas públicas - o facto de no caso da Caixa Geral de Depósitos se ter estado nas tintas para essa promessa governamental demonstra o desnorte com que este dossiê tem sido gerido.
Pessimamente, claro.
Ana Sá Lopes, Ji
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