Por outro lado, as falhas do supervisor no BES já se conhecem desde 2014 e a recente reportagem da SIC, “Assalto ao Castelo”, apesar de expor alguns factos novos, não veio alterar essa percepção. Daí que seja difícil justificar o cerco que o PS e os seus aliados à Esquerda estão a fazer ao governador Carlos Costa, neste ano da graça de 2017. Porquê agora? O que há de novo que ainda não se sabia em 2016, 2015 e 2014?
A resposta é quase nada.
A nomeação de membros do conselho do supervisor precisa do ‘OK’ do Governo e António Costa aproveita estas ocasiões para desviar as atenções de outros assuntos e para enfraquecer a posição do governador do Banco de Portugal, instituição que tem sido um dos raros pólos de poder que escapam ao controlo da maioria de Esquerda.
Neste enredo, o PS, mostrando-se cauteloso, faz o papel de polícia bom, admitindo que nunca gostou do governador, cuja recondução lhe foi servida como um facto consumado, mas prometendo continuar a trabalhar com ele; enquanto o PCP e o Bloco fazem de polícias maus, invocando a “falha grave” prevista na lei como situação excepcional para justificar o afastamento de um governador que, tal como os juízes, deve ser inamovível.
O problema é que dificilmente este queimar em fogo lento da figura do governador do Banco de Portugal será do interesse do país.
Concorde-se ou não com a forma como Carlos Costa lidou com a crise no BES, fragilizar o governador não contribui para reforçar a confiança na supervisão e no sistema financeiro nacional. Assim, a menos que o governador deixe o cargo pelo próprio pé, o que se espera do Governo é que faça uma de duas coisas: invoca a “falha grave” e afasta de vez Carlos Costa (assumindo os previsíveis riscos para a imagem do país que uma decisão dessas traria), ou desiste da guerrilha institucional contra o governador.
Se a primeira opção fosse possível, António Costa já teria seguido por esse caminho. Assim sendo, resta a segunda.
Fonte: Filipe Alves, 'Polícia bom, polícia mau', JE
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