Teixeira dos Santos era o ministro das Finanças quando o governo de Sócrates fingia, através dos mais variados truques, cumprir um défice que estava longe de estar efectivamente controlado. Era o ministro das Finanças quando o governo de Sócrates se entreteve a aumentar a despesa pública para dar “confiança” à economia. Era o ministro das Finanças quando o governo de Sócrates, à beira de eleições, decidiu comprar votos com um aumento de salários dos funcionários públicos e uma descida de impostos que abriram um buraco no Orçamento, do qual Portugal nunca mais conseguiu sair. E era o ministro das Finanças quando o governo de Sócrates andou alegremente de PEC em PEC até à bancarrota final.
Depois da derrocada, relatos mais ou menos detalhados do caos no “bunker” socrático naqueles atribulados dias do seu crepúsculo começaram a sair na imprensa, e fizeram Teixeira dos Santos parecer, por comparação com o primeiro-ministro e alguns dos seus acólitos, um tipo sensato que, à beira do descalabro, não ignorava a realidade como o alucinado líder governativo que achava que tudo estava bem. Mas o facto de ter sido a pessoa que confrontou o lunático que o chefiava com a fatal constatação de que a loucura pela qual partilhavam responsabilidade tinha chegado ao fim, não o iliba de ter sido co-autor dessa loucura.
É claro que Teixeira dos Santos, como qualquer outra pessoa, até maus governantes como foi o seu caso, tem o direito de se vir aliviar publicamente dos seus estados de alma sobre a actualidade. Mas num país normal, com uma comunicação social que merecesse ser respeitada pela população e que se desse ao respeito, ninguém lhe daria o palanque que televisões e jornais lhe continuam a dar.
Que a RTP, paga com o dinheiro dos portugueses, seja um agente cimeiro da imerecida reabilitação de Teixeira dos Santos só piora as coisas. E que fora do PS e das redacções que lhe são simpáticas haja quem esteja convencido de que Teixeira dos Santos é mesmo uma voz credível que merece ser ouvida sobre a situação e o futuro de Portugal, ajuda bastante a explicar como o país é o que é.
Fonte:Bruno Alves, 'O Homem estava lá', JE
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