(...) Meu Deus, a pouco e pouco vamo-nos
tornando sotãos onde o passado amarelece,
a pouco e pouco os sotãos invadem a casa
que somos, principiamos a mover-nos entre
sombras truncadas de gente, emoções, memórias.
Lentamente tiram-nos tudo,
o presente afunila-se, o futuro uma parede.
E nós, apesar de adultos, tão crianças,
assustados, perdidos, juntando pedaços
dispersos para nos reconstruirmos de
novo, continuarmos. Na direcção de quê?
Para onde? Quem nos espera ainda? (...)
António Lobo Antunes in Livro de Crónicas
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