(...) Perante a incapacidade ou a falta de poderes das entidades fiscalizadoras, diante do silêncio das instituições e a coberto de uma comunicação social geralmente mal preparada e dependente. Vários bancos foram liquidados. Diversas empresas destruídas. Um grupo de insaciáveis sem escrúpulos tomou conta!
Falhou a opinião pública, falhou a imprensa e falharam as instituições. Os governantes não falharam, porque eram cúmplices ou protagonistas. Mas o Parlamento falhou, porque não cumpriu os seus deveres. Nem quis saber. Os partidos não falharam, porque aproveitaram. Ou falharam, porque não perceberam.
Primeira hipótese: encontramo-nos diante de uma colossal operação de destruição de pessoas, partidos, governantes, empresas e bancos, a comando de concorrentes ocultos e de abomináveis forças de conspiração. Nessa versão, falham o regime, a democracia e a Justiça. Segunda hipótese: uma monumental operação de expropriação e assalto ao Estado, por parte de políticos, gestores e banqueiros, destruiu empresas e grupos, fez literalmente desaparecer dez a vinte milhares de milhões de euros. Nesta versão, falham o regime, a democracia, o sistema político, o Parlamento, as instituições e o capitalismo português. (...)
Perdeu o regime e perdeu Portugal. Que ninguém pense que, com excepção do ladrão, alguém vai ganhar e que o fim será feliz. Não. Ou perde a economia, o mercado e a banca. Ou perde o mais importante partido político da democracia, o seu líder durante seis anos e o seu único primeiro-ministro com maioria absoluta. Ou perde a democracia e o seu sistema político que conviveu com parasitas da política ou das finanças, deixou pulhas roubar o Estado e permitiu que velhacos roubassem depositantes, credores e accionistas de boa-fé. Ou perde a democracia e o seu sistema de Justiça que não consegue organizar um serviço capaz de investigar eficazmente, arguir dentro de prazos decentes, julgar em tempo e dar sentenças a horas. Ou perde o regime cuja classe dirigente é incapaz de governar com honestidade e em democracia.
Ou perdemos tudo, que é o mais provável.
Excertos do artigo de António Barreto, hoje no DN (Ler artigo completo)
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