Nos anos da troika, repetia-se muitas vezes, e ainda hoje se diz, que o governo de Passos e Portas, (...) retirou esperança às pessoas.
Não há dúvida de que foram anos de chumbo: um país confrontado com o abismo e nas mãos dos credores, a precisar de recuperar a credibilidade para poder voltar àquela segura e calma normalidade que permite, lá está, a esperança. Era possível ter dado mais esperança em anos tão duros? Talvez fosse. É sempre possível fazer melhor. Mas só quem está de fora, ou chega com o trabalhinho feito, pode dizer que era fácil oferecer um discurso só de esperança.
Convém esclarecer o que é isso de dar esperança, sobretudo como antídoto contra populismos. Uma coisa é não perder o foco, o ponto de chegada, e tê-lo claro na apresentação das políticas; é apresentar suplemento anímico de estímulo, de confiança, exibir a convicção de que vamos, sem deixar ninguém para trás, conseguir vencer. Outra coisa é não dar a cara pelas medidas duras, fingir que nem existem, dizer que não se está a cortar quando se está a cortar, deixar de investir jurando que estamos a investir, dizer que já passou o pior e que o pior só existiu porque alguém o desejou.
Uma coisa é dar esperança, outra coisa, muito diferente, é, a pretexto da esperança, iludir, mentir. Não confundamos a essencial esperança com a dispensável espertice, mesmo quando esta se mascara de habilidade. Em dicionário algum o verbete de esperança se confunde com o de pantomina.
Adolfo Mesquita Nunes
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