sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Insegurança E Falta De Confiança

Por estes dias, o mais natural é o quase inevitável sentimento de insegurança e de falta de confiança ditado pelo caminho que leva a pátria nos mergulhar numa espécie de dúvida existencial. 

A dilacerante questão é: até que ponto vale a pena levar as coisas a sério, quando tudo se assemelha a uma farsa generalizada em que a classe política parece sobretudo interessada em não nos fazer o favor de se preocupar connosco? E: levá-la a sério não será uma maneira de lhe supor uma respeitabilidade e uma consequência que a gratificam muito para lá de qualquer merecimento real?

A contradição entre o discurso e a realidade tornou-se até a regra. O problema é que a contradição entre o discurso e os factos existe mesmo e vai minando tudo em que toca e poluindo de forma sistemática toda a conversa política. A pouco e pouco, os resultados vão-se vendo. E quando começam a furar a superfície do discurso já vêm com uma força praticamente imparável. Alguém duvida da catástrofe que se aproxima, por exemplo, do SNS?

É uma chatice, mas isto tem-se tornado uma especialidade do PS. Porque foi assim com Sócrates e está a ser assim com Costa. Dir-se-á que o caso de Sócrates foi excepcional, quanto mais não seja por causa da excepcionalidade do próprio Sócrates, e que Costa, comparado com ele, é um político “normal”.


Como muita gente não se cansa de repetir, a atmosfera de irrealidade afectou também a oposição. E também aqui o problema não é Rui Rio julgar-se mais de esquerda do que Passos Coelho. Se isso o consola, não vem por aí mal nenhum ao mundo. O problema, aquilo de onde vem mal ao mundo, é o PSD ter decidido fazer integralmente parte da farsa ambiente, sem explicitar um milímetro de recuo ou distância face a ela. Dito de outra maneira: decidiu banhar-se na mesma atmosfera de irrealidade, logo patente na aceitação da “normalidade” da situação que vivemos.
Numa situação como esta, a banal constatação do óbvio pertence quase à esfera do indizível. Acha-se estranho um governo seguir uma política de corte nas despesas (via “cativações”, por exemplo) com consequências claramente danosas para o funcionamento regular de várias instituições e, ao mesmo tempo, esse mesmo governo proclamar o “fim da austeridade”?
Seria de facto óptimo limitarmo-nos a rir da farsa grotesca que nos rodeia e na qual os nossos políticos se mexem como peixe na água. Desgraçadamente, é preciso andarmos com atenção. E de vez em quando convém tentar perceber como funciona a cabeça daquela gente. Nesses momentos, o medo tira-nos a vontade de rir.
(Excertos do artigo de hoje de Paulo Tunhas, OBSR)

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