De: Francisco M. da Silva |
O problema é que sem a "comunidade", que é o conceito político nuclear, nem a política progressista nem a política conservadora fazem sentido. A "comunidade" é a "identidade" política fundamental, aquela que enquadra todas as outras. Numa democracia comunitária, todos os interesses legítimos tendem para o reconhecimento. Numa democracia identitária, todos os interesses estão em risco de silenciamento e ilegitimidade. Porque se a relevância política de uma pessoa se esgota na sua própria circunstância, essa pessoa não é bem um cidadão - é um potencial inimigo de todas as outras.
Em Portugal, a democracia identitária é especialmente perigosa para a direita. Em primeiro lugar, porque é a esquerda que nela vive melhor. Foi a esquerda que lá fora a criou e foi a nossa esquerda radical - do Bloco ao Livre, passando pelas franjas do PS - que a importou.
Em segundo lugar, como já aqui escrevi, o PS tem um projecto de poder hegemónico. O seu desejo é "mexicanizar" o regime e eternizar-se como "o partido natural de governo". O partido charneira inamovível, centrista e pragmático, que governa inevitavelmente porque é o único que atende aos sentimentos maioritários do eleitorado, e porque em seu redor, à esquerda e à direita, só há irresponsabilidade. Ora, não há melhor cenário para esta ambição do que um sistema partidário fragmentado, obcecado com discussões panfletárias e proclamações sectárias.
(excertos do artigo de Francisco da Silva, JNeg)
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