Este método expedito é todo um programa político. E este automatismo burocrático é uma curiosa metáfora da governação socialista.
Num contexto em que, por definição, os recursos são sempre escassos, trata-se de alocar recursos a prioridades políticas. Trata-se de ter um qualquer programa para o País, trata-se de ser capaz de o ajustar em função de uma qualquer leitura da conjuntura, e de, em função disso, arriscar fazer escolhas. Trata-se de ter a coragem de dizer não, de deixar para trás funções e opções que não se afigurem prioritárias, essenciais ou possíveis. Mas trata-se também, bem entendido, de fazer apostas. De perceber que há funções que o Estado não pode descurar, que têm de ser defendidas com visão e sem sombra de temores.
A opção burocrática de Centeno é o contrário de tudo isto. É a opção deliberada pela não política. É a dispensa radical de qualquer opção reformista. É um hino ao imobilismo. E é, sobretudo, o caminho que nos trouxe até onde estamos: uma crise sem precedentes no SNS, uma situação explosiva nas forças de segurança, um clima de sobressalto permanente entre os professores, uma falência das mais variadas infraestruturas. Não o digo por demagogia política, muito menos por discordar de uma gestão saudável das contas públicas. Afirmo-o por imperativo matemático: num momento em que vivemos sob a maior carga fiscal de sempre, em que nunca tantos recursos foram mobilizados para financiar o Estado, é impossível não perceber, em face dos sinais que chegam de todos os lados, que a manta não estica.
A realidade clama por opções. O método Centeno serve-nos paralisia em modo incremental. Só por acaso é que esta história acaba bem.
Pedro Norton, Visão
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