Nunca gostei que me dissessem o que não podia ler, o que não podia escrever, o que não devia pensar. Também não me agrada que me digam do que devo gostar. Desagrada-me quem julga ter por missão indiscutível defender valores que podem ser os seus, mas não são os de todos - na religião, na ideologia, na política, nos costumes, na estética ou na ética, para só citar alguns. Prezo a liberdade de poder tomar decisões, arcando com a responsabilidade inerente. Habituei-me a pensar que a minha liberdade acaba onde começa a dos outros e tenho tentado viver assim. E irrita-me que alguém tente entrar na minha liberdade, na minha maneira de encarar a História, na minha maneira de ver os acontecimentos.
Por isso, para mim, o Livre é tão perigoso como o Chega e os últimos dias têm provado isso mesmo - mas não me ocorre dizer-lhes o que devem fazer. Existem certamente formas de analisar a História. Mas não existem duas Histórias. Existem factos, e depois existem interpretações - e estas são de quem as quiser formular, desde que não pretendam impô-las aos outros. Acontece que, desde há uns anos, em todo o mundo, se evolui para uma forma de protoditadura que veste as roupagens do politicamente correcto, em que alguns decretam o que está certo e fazem julgamentos por conta própria. Muito facilmente se começou a confundir direitos de uns com pecados de outros e criou-se a tendência de querer que toda a sociedade aceite como verdade inquestionável aquilo que apenas a parte dela interessa. E isto é inaceitável, seja qual for o tema. É uma nova forma de ditadura.
Manuel Falcão, JN
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