domingo, 25 de outubro de 2020

Era Uma Vez Um País A Perder A Liberdade

 Era uma vez um país a perder liberdade. Não a perder liberdade em termos formais, que este país, em matéria de liberdade, sempre proclamou muito mais do que aquilo que concretizou. Mas a perder liberdade de facto. (...)

Era uma vez um país sem esperança que desistiu de si e do futuro. Não um país agarrado às grandiloquências do passado, das descobertas e dos “novos mundos ao mundo”. Mas um país sem qualquer visão de futuro. Nem tanto, apesar de também, um país demasiadamente ocupado em gastar no dia-a-dia o dinheiro que a União Europeia lhe envia há 35 anos, sem querer investir solidamente num futuro sustentável (...)

Neste país manda o Governo mais incompetente de que há memória, pelo menos, desde o PREC. Suportado na maioria parlamentar negativa de partidos de extrema-esquerda mais acéfala que a imaginação mais fértil concebe. Ajudado por uma oposição impreparada, conivente e/ou folclórica. Neste país, a máquina do Estado – alfa e ómega do próprio país – está cada vez mais nas mãos de cada vez menos. Esses menos que fazem fila no Largo do Rato; por contraste com os muito mais que fazem fila noutro(s) eixo(s) da cidade, na(s) sopa(s) do Sidónio. (...)

Neste país o principal partido da oposição comporta-se como uma espécie de Dupont do Dupont que está no Governo. Ávido de umas migalhas que lhe caiam da mesa. O resto da oposição, essa, dependendo dos actores e dos partidos, anda perdida entre fanfarronadas, trivialidades, fantasmagorias e infantilidades do tipo “a culpa é dos outros meninos que cá estiveram antes de nós”; versão Calimero, à direita, do “a culpa é do Passos”.

(...) Portugal também amanheceu cedo, lá pelo século XII, e recentemente outra vez, no 25 de Novembro de 1975. Mas nos últimos 25 anos tem ignorado todos os sinais da sua morte anunciada. E, tal como com Santiago, também ninguém pareceu querer saber. Santiago morreu. Portugal ainda não; mas, por este caminho, já não falta muito. (...)


(excertos do texto de Pedro Gomes Sanches, hoje no
OBSR)

Sem comentários: