domingo, 17 de dezembro de 2023

Refúgio


Quem disse que as casas não tinham vida, ainda não viveu completamente a sua casa.

As casas são mais do que uma toca para onde fugimos no fim do dia, ou um refúgio nas horas de aconchego. São livros que escrevem as nossas memórias, e que guardam detalhes de nós. Se as suas paredes falassem iriam provavelmente lembra-lo dos tempos em que as gargalhadas ao jantar silenciavam o barulho da rua, ou quando os seus filhos deram os primeiros passos entre várias quedas, mas principalmente iriam lembrar aos menos crentes que uma casa não é apenas feita de tijolos e cimento, mas de história e identidade – a sua, e a dos seus.

Sem quadros, sem mobílias, sem vestígios de ‘’nós’’, a casa é uma obra de arquitetura, sem vida, sem voz, sem alma. Daí a importância das memorias, das lembranças e das heranças – peças de nós, linhas da nossa história que compõem a imagem geral da decoração dos espaços que habitamos diariamente.

A decoração das nossas casas não é fútil mas útil. É o que somos, 
onde fomos, e para onde vamos todos os dias. 

(Maria Matos, Casa)

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