Haverei de levantar a vasta vida
que ainda agora é teu espelho:
cada manhã haverei de reconstruí-la.
Desde que partiste
quantos lugares se tem tornado vãos
e sem sentido, iguais
às luzes no dia.
Tardes que foram nicho de tua imagem,
músicas em que sempre me aguardavas,
palavras daquele tempo,
eu terei que quebrá-las com minhas mãos.
Em que cavidade esconderei minha alma
para que não veja tua ausência
que como um sol terrível, sem ocaso,
brilha definitiva e sem piedade?
Tua ausência me rodeia
como a corda à garganta
o mar ao que se quebra.
(José Luís Borges)
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