Imagine-se que a gravação é rápida e ilicitamente entregue aos media, que a difundem. Imagine-se o que aconteceria, logo de seguida, num país normal. E imagine-se o que aconteceria em Portugal. (...)
Num país normal, além da extraordinária repercussão na opinião pública, as forças de segurança tratariam imediatamente de deter o sujeito em questão, obrigá-lo a denunciar possíveis cúmplices e, claro, anular o plano, impedir o atentado e salvar as criancinhas. (...)
Num país normal, além da extraordinária repercussão na opinião pública, as forças de segurança tratariam imediatamente de deter o sujeito em questão, obrigá-lo a denunciar possíveis cúmplices e, claro, anular o plano, impedir o atentado e salvar as criancinhas. (...)
Em Portugal, semelhantes minudências passariam para segundo plano: a reacção prioritária seria encher os estúdios televisivos e as colunas dos jornais de comentadores com ambições políticas e políticos a fingir de comentadores, todos indignadíssimos com a fuga do segredo de justiça, o comportamento inaceitável do Ministério Público e a necessidade de, acima de tudo, resgatar o bom nome do candidato a bombista, entretanto arrastado pela lama. No que dependesse desses vultos da ética, as criancinhas não teriam hipótese.(...)
A “confiança nas instituições” só corre riscos se as trafulhices são divulgadas. A “ética” de que a casta fala não se aplica aos actos, e sim à ocultação, ou à revelação, dos ditos. Parece Kant, mas é “cant”, a palavra inglesa que significa o recurso insincero a sentimentos virtuosos, ou a pura hipocrisia. A palavra aplica-se com frequência ao linguajar do submundo.
A “confiança nas instituições” só corre riscos se as trafulhices são divulgadas. A “ética” de que a casta fala não se aplica aos actos, e sim à ocultação, ou à revelação, dos ditos. Parece Kant, mas é “cant”, a palavra inglesa que significa o recurso insincero a sentimentos virtuosos, ou a pura hipocrisia. A palavra aplica-se com frequência ao linguajar do submundo.
Por alguma razão que me escapa e que com certeza é de uma imaculada nobreza, essa rapaziada apenas defende pro bono os membros da casta. E acrescente-se que a defesa tem resultado: apesar das tenebrosas perseguições a cargo de juízes ressentidos e “insindicáveis”, a casta continua aí, resistente e heróica, a sofrer martírios enquanto espalha rigor, honestidade e valores democráticos com abundância. Imagine-se o que aconteceria se os juízes tivessem trela. Imagine-se o leite e o mel da democracia a transbordar. Imagine-se a Venezuela.
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