Vivemos tempos de vertigem e imediatismo. Demitimo-nos das nossas responsabilidades e delegámos no outro a obrigação de fazer, de ser por nós. Perdemos as referências políticas, religiosas, sociais e familiares e, no meio do vazio, ficámos dependentes, cada vez mais dependentes. É uma carência de objectivos, uma paralisia de emoções, uma impossibilidade de se “ser” sem orientação. (José Torres da Costa, OBSR)
O controlo que outrora se fazia por muros, grades e vigilância, está hoje disseminado nos nossos hábitos, “cliques” e rotinas. Não precisamos de ser vigiados, estamos voluntariamente expostos, e isso basta.Este é o mundje, um mundo pós-moderno e “narcisista”. É um mundo que alimentamos pelas redes sociais e pelos média. E num mundo ávido por informação e “notícias” sem qualidade. (...) Neste misto de voracidade e vertigem, esgotados que estão os temas da religião e virtude, é preciso uma nova “Fé”, a promessa de um novo “Éden”.
Temas como a saúde (a par de outros) tornaram-se combustível indispensável para a “fornalha” da comunicação. A sociedade torna-se hipermedicalizada e é-lhe difícil manter uma ponderação adequada entre o que faz sentido e um desnecessário tantas vezes contraproducente. Este novo mundo necessita de um equilíbrio que é difícil de obter, mas também é uma realidade à qual a Ordem dos Médicos anquilosada nunca se conseguiu adaptar.
NA perspetiva dos conteúdos, e apesar dos avanços e reconhecimentos internacionais, a comunicação social olha na saúde demasiadas vezes pela exceção, dando-lhe um destaque e notoriedade que suspeito assistir a agendas de inocência duvidosa.
Com ou sem intencionalidade, há uma certa perversão na forma como o nosso sistema de saúde é dado a conhecer. Um sistema que apesar dos defeitos e agressões a todos deveria orgulhar.
Se existem noticiários têm de existir notícias e nesta dependência o critério da escolha não é a notícia em si, mas o impacto que tem. Seria tranquilizador e sedativo um noticiário que um dia destes dissesse – “hoje não há notícias. Não há nada de novo!”. Pura e simplesmente não acontece!
Portugal tem uma ferência de investigação como a Champalimaud Foundation ou o Instituto de Medicina Molecular para além de importantes investimentos em tecnologia digital na área da medicina (telemedicina, inteligência artificial, registos eletrónicos de saúde) e a criação da recente licenciatura em Saúde Digital e Inovação Biomédica (SauD InoB) da FMUP. Por tudo isto, e por uma alta relação qualidade / preço, Portugal é classificado no top dos rankings da OMS e da Euro Health Consumer Index .
Em muitas áreas da saúde surgiram plataformas de recolha de dados que utilizam modelos de aprendizagem profunda que permitem um melhor conhecimento da saúde dos portugueses para além de serem ferramentas indispensáveis para a identificação precisa de ganhos em saúde. (...)
Com ou sem intencionalidade, há uma certa perversão na forma como o nosso sistema de saúde é dado a conhecer. Um sistema que apesar dos defeitos e agressões a todos deveria orgulhar.

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