No futuro próximo, a língua deixará de ser uma barreira técnica. A verdadeira barreira poderá passar a ser cultural, ética ou económica — ou seja, o que dizemos e como o dizemos poderá importar mais do que em que língua dizemos.
Neste novo cenário global, onde a comunicação já não depende da língua de origem e a administração Trump cria entraves aos estrangeiros, a mobilidade académica e o intercâmbio de ideias tendem a deslocar-se para outras geografias.
O desaparecimento das barreiras linguísticas tem implicações diretas para as universidades dos EUA — sobretudo num contexto em que a administração Trump dificulta cada vez mais a entrada de estudantes estrangeiros.
Mas como vimos, a língua deixará de ser um critério determinante. Com os avanços da inteligência artificial, a tradução instantânea poderá tornar irrelevante a língua materna das instituições académicas. No futuro, veremos europeus e americanos a estudar na China? Será que o ensino voltará à Europa — berço da democracia e da liberdade? Talvez, mas a Europa também parece atravessar uma decadência, não apenas económica, mas também ao nível dos valores, dos princípios e da valorização do trabalho e das pessoas que o realizam com dedicação, emprenho e esforço diário.
A China, apesar de ser um regime autoritário, já forma cerca de cinco milhões de estudantes por ano nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, Science, Technology, Engineering and Mathematics) — dez vezes mais do que os EUA.
A China, apesar de ser um regime autoritário, já forma cerca de cinco milhões de estudantes por ano nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, Science, Technology, Engineering and Mathematics) — dez vezes mais do que os EUA.
A desglobalização poderá acentuar-se e redundar em algo como: os europeus estudarão na Europa, os chineses na China, os japoneses no Japão? Entretanto, a China, com quase 20% da população mundial e uma juventude altamente empenhada no conhecimento, pode muito bem liderar a próxima fase da revolução tecnológica.
O protecionismo deteriora quase sempre a qualidade de um produto. Assim, o protecionismo da administração Trump ao fechar as escolas norte-americanas aos estudantes estrangeiros acaba por degradar a qualidade do ensino nos EUA, ao abdicar do contributo de alunos altamente qualificados oriundos de várias partes do mundo — da China e da Ásia, à Europa, ao Médio Oriente, a África e à América Latina.
Este entrave afeta sobretudo estudantes vindos de economias com maior capacidade financeira, como a China e países europeus, cujos pais procuram proporcionar aos filhos o melhor ensino e os melhores professores. Há alguns anos, e sem os atuais avanços da inteligência artificial, esta postura protecionista abriria caminho a que outros países de língua inglesa concorressem diretamente com o ensino norte-americano, que parece querer abdicar do seu papel histórico enquanto centro mundial de produção e disseminação de conhecimento.
(Paulo Monteiro Rosa, ECO)

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