Apesar do muito que foi sendo escrito – e do intensivo recurso à História para chamar a atenção do que os homens são capazes de fazer e de estragar – os responsáveis políticos e as opiniões públicas europeias dos últimos vinte anos mostraram-se olimpicamente indiferentes aos sinais de alarme que por vezes vinham acima da linha de água.
E foi assim que chegámos aos dias de hoje, com a confirmação de algumas das previsões: a China assume-se como pretendente natural à liderança global e a Rússia provou, uma vez mais, a natureza sanguinária que é a sua marca desde Ivan o Terrível. Quanto à Europa, fruto das divisões internas, não conseguiu afirmar-se como uma força de interposição política e económica entre as grandes potências. A grande surpresa, no entanto, acabou por acontecer, com grande estrondo, na América, onde o voto recoloca Trump no poder; apesar de desprovido das mais elementares características de urbanidade e de decência, de ser indiferente à sorte dos outros fora dos seus círculos de influência e de desconhecer ou desprezar o património jurídico que garante os direitos de cada um numa sociedade organizada, Trump seduziu e hipnotizou a maioria do eleitorado. (...)
Em resultado, a mais antiga e importante democracia do mundo moderno avança para o autoritarismo a golpes de teatro promovidos nas plataformas sociais e na televisão, reconhece apenas a lei do mais forte e aceita a corrupção como um modo adequado de exercício do poder. Esta mudança de paradigma representa para a Europa, histórica aliada da América, o fim da ligação atlântica privilegiada e da protecção militar de que beneficiava há oito décadas. Num curto espaço de anos, ocorreram alterações tão substanciais no nosso mundo, que os arquétipos e conceitos por que nos regíamos, deixaram de existir. Agora, é tempo de percebermos onde estamos, analisar a situação e ver o que podemos fazer. Pensar que está tudo igual, mais não trará que dissabores e desilusões. (...)
Nunca esquecer que nada na vida, com excepção da morte, está gravado na pedra. Não há predeterminação. O fulgor americano que anima as notícias diariamente pode vir a ser atingido mortalmente pelos tratamentos financeiros não ortodoxos a que Trump sujeitou o sistema. Um colapso é possível e, para muitos, é mesmo inevitável. E nesse caso, até Trump terá dificuldade em manter o seu Mar-a-Lago. Por outro lado, a saúde financeira da China é uma face problemática do sucesso chinês. Os Historiadores têm presente o que aconteceu no Séc. XVII na China quando a queda do comércio para Europa levou ao caos e, consequentemente, à alternância de uma nova dinastia. Xi Jinping só é inamovível se a economia chinesa continuar a funcionar bem. Mas, na verdade, estes são cenários dramáticos que neste momento relevam do domínio da ficção. Não vale a pena morrer a sonhar. (...)
Nunca esquecer que nada na vida, com excepção da morte, está gravado na pedra. Não há predeterminação. O fulgor americano que anima as notícias diariamente pode vir a ser atingido mortalmente pelos tratamentos financeiros não ortodoxos a que Trump sujeitou o sistema. Um colapso é possível e, para muitos, é mesmo inevitável. E nesse caso, até Trump terá dificuldade em manter o seu Mar-a-Lago. Por outro lado, a saúde financeira da China é uma face problemática do sucesso chinês. Os Historiadores têm presente o que aconteceu no Séc. XVII na China quando a queda do comércio para Europa levou ao caos e, consequentemente, à alternância de uma nova dinastia. Xi Jinping só é inamovível se a economia chinesa continuar a funcionar bem. Mas, na verdade, estes são cenários dramáticos que neste momento relevam do domínio da ficção. Não vale a pena morrer a sonhar. (...)
(excertos do texto de José Veiga Sarmento, OBSR)

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