Seguro tinha finalmente uma parte do País disposto a escutá-lo depois de morto e enterrado o deslumbramento com Costa – muito dele forjado mediaticamente, como já estamos habituados. E perante uma crise grave em que o PS, depois de abrir todas as gavetas poeirentas e descerrar todas as caves bafientas, não foi capaz de avançar um nome que evitasse Seguro. Seguro era, assim, por falta de comparência de todos os outros, o candidato natural da esquerda não-extremista.
E o que fez Seguro com esta oportunidade? Começou por não ser capaz de responder com inteligência e perspicácia à pergunta simples que lhe fizeram. Seguro é “de esquerda”? Um homem que passou a sua vida desde a adolescência a apregoar a sua pertença à esquerda hesitou em categorizar-se como sempre se categorizou. Poderia alguma mudança no seu perfil ético-político explicar isso? Não. Dias depois, com as críticas que se avolumaram, Seguro lá veio com a designação estafada da “esquerda moderna e moderada” para se caracterizar a si mesmo. Era melhor do que nada. Mas era tarde demais. Em campo estavam já candidaturas da esquerda radical e da extrema-esquerda participantes na Geringonça que proporcionavam escapes previsíveis para o voto secreto das viúvas socialistas dessa Geringonça. (Miguel Morgado, OBSR) Sobretudo Catarina Martins, mas também António Filipe, formam candidaturas de alívio das tenras consciências e duros ressentimentos de muitos socialistas que suspiraram por Sócrates e depois pela Geringonça. Com a hesitação de Seguro passaram a ter um argumento formal para rejeitar publicamente o voto nele – uma alma de esquerda não vota em alguém que não é capaz de imediata e entusiasticamente se dizer “de esquerda”. Entretanto, António Filipe e Catarina Martins previsivelmente não têm batido noutra tecla. (...)
Seguro já não tem muito tempo para reconstruir a sua candidatura. Mas um bom ponto de partida está em aprender com as lições do passado, e não mistificá-lo.
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