O procedimento enquadra-se no carácter auto-referencial do jornalismo: afastando-se do real, virado sobre si mesmo, muito jornalismo aborda o que outro jornalismo já abordou e por aí adiante, numa cornucópia infernal. Ficaram de fora inúmeros temas de interesse nacional.(...)
A maioria dos canais e jornais sublinhou depois que Passos Coelho disse não poder descartar a hipótese de novo pacote de ajuda. Já o sabíamos. Mesmo assim, foi a manchete, não por causa do conteúdo, mas pela obsessão do jornalismo português com o futuro. Tudo o que seja previsões de políticos, comentadores, governantes ou outros protagonistas mediáticos é valorizado em manchetes e títulos e citado em espiral de auto-referenciação noutros media.(..)
Parte do jornalismo português, viciado nas mentiras cor-de-rosa do anterior governo, anda desaustinada com um primeiro-ministro que recusa aderir a essa má prática política e jornalística. Ele repete que não quer prever e prometer o que não pode. Mas os microfones sedentos de previsões não o largam. Quando esse jornalismo anseia que lhe contem mentiras, que se pode esperar dele?
Eduardo Cintra Torres,CM
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