A fama (por boas ou más razões) constituía-se em tempo lento. O relógio era o que é hoje, mas decorria em perceção lenta e de mudança longa. Exigia, a fama (por boas ou más razões) um reconhecimento social duradouro. Não existia a fama por ‘um minuto de feliz acaso’. Essa diferença (o reconhecimento pelo maior número) construía-se em anos de persistência em lugar ou papel de exceção. Tudo mudou.
A extraordinária (e dimensão) da evolução (revolução) nas comunicações, na tecnologia das comunicações, o instante da imagem face à palavra (de expressão literata e a exigir compreensão da língua materna) tudo mudou. Da rádio, à box Tv, da internet ao smartphone, compactou o tempo e iludiu o espaço. Ocorreu a globalização competitiva.
O meu bairro, a minha rua, é, agora, o mundo na palma da mão. A atitude é instantânea e, subitamente, é global. Um gesto correto num feliz instante torna me sujeito de fama. De sucesso (bom ou mau).
A alimentação também é instantânea. Do café ao puré.
A fama (processo de diferenciação face ao universo dos outros e motivo de reconhecimento pelos outros) que, no passado, se afirmava em construção lenta e granítica, hoje é construída em instante feliz e passa ao desconhecimento em instante seguinte.
Um conceito novo afirma se no mundo: o telefone, no limite, também faz chamadas. Mas é sobretudo Instagram, Facebook ou Twitter. Quase tudo se passa ali (em fama global).
Distinta é a fama, o reconhecimento, num nicho social. Na academia, na ciência, no reconhecimento entre pares do primeiro entre pares (fama que continua a ser de sólida construção).
Mas, atenção, hoje a fama é construída (e desfruta) no ecrã mínimo que se acolhe na sua palma de mão.
E, desaparece, também, com uma palmada.
(Carlos Lourenço Fernandes, RP)
Sem comentários:
Enviar um comentário