No sistema político português, o momento decisivo que explica o atual contexto foi, sem sombra de dúvida, a maioria negativa que derrubou o segundo Governo de Pedro Passos Coelho, em 2015, com a formação de uma “geringonça” que levou para o poder um partido que ficou em segundo lugar nas eleições. (Filipe Alves, DN)
Ao aliar-se ao Bloco de Esquerda e ao PCP, para não deixar a direita governar, o PS de António Costa rompeu a tradição que vinha desde os primeiros anos da democracia. Formou Governo com o apoio de partidos que tinham (e têm) visões opostas às do PS sobre a economia de mercado, a construção europeia e uma certa ideia de sociedade aberta que sempre foi partilhada pelas forças do chamado arco da governação. Foi uma aliança contranatura, muito eficaz no plano tático e no imediato, mas que a prazo provocou a implosão do sistema partidário.
Senão, vejamos: se Passos Coelho tivesse continuado a governar num segundo mandato como primeiro-ministro, a evolução da direita portuguesa teria sido muito diferente. O Chega dificilmente teria tido espaço para crescer (aliás, talvez nem tivesse nascido). O mesmo se pode dizer da Iniciativa Liberal. Por sua vez, o PS voltaria a ser poder mais cedo ou mais tarde, alternando com o PSD, enquanto o Bloco de Esquerda e o PCP teriam continuado a ser o que sempre foram, isto é, partidos de protesto que serviam de válvula de escape para as tensões sociais.
Ao levar o Bloco e o PCP para o poder, António Costa deu-lhes um grande “abraço de urso”, que teve como efeito, nos anos seguintes, o esvaziamento do eleitorado desses partidos.
Por um lado, muitos eleitores de esquerda passaram a votar no PS, até porque este, de forma engenhosa, se apropriou de várias bandeiras dos seus aliados da geringonça. Mas, por outro, houve também quem se tivesse desiludido com a esquerda e com o estado em que a Saúde, a Educação e a Justiça se encontravam após quase uma década de governação socialista.
A História alternativa é um género frequentemente utilizado nos romances distópicos, como The Man in the High Castle. Na nova realidade em que estamos a entrar, o momento decisivo deu-se em 2015. Esperemos que não nos tenha votado à instabilidade permanente. (ler texto na íntegra)
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