Foi com essa imagem em mente que se pode olhar ontem para a visita a Washington de Volodymyr Zelensky, acompanhado por uma corte de líderes europeus. Ao estilo de uma guarda pretoriana tardia, a comitiva foi tentar conferir peso político e escudo simbólico à Ucrânia naquilo que poderá ser o mais arriscado e mais ambíguo capítulo da guerra: a negociação de uma paz que ameaça ser mais ditada do que construída.
Donald Trump e Vladimir Putin voltaram a encontrar-se, e o epicentro da diplomacia global transfere-se de Kiev ou de Bruxelas para o Salão Oval de Washington, onde a Europa, mais uma vez, se senta numa cadeira lateral, ansiosa por ser ouvida mas consciente de que a decisão se joga sobretudo a duas mãos.
O reencontro de Trump e Putin serve de palco para uma inversão narrativa: o Ocidente, que durante dois anos prometeu firmeza e unidade, entra agora num ciclo de fadiga estratégica. A paz na Ucrânia discute-se em moldes que parecem mais favoráveis ao Kremlin do que a Kiev. E a Europa, que deveria ser protagonista, apresenta-se como figurante de luxo — tal como a velha guarda pretoriana, emprestando presença e solenidade, mas sem deter o fio condutor da decisão.
A fragilidade política europeia ajuda a explicar esta posição secundária, mas não é apenas de fragilidade que se trata: é também da incapacidade histórica de a União ser proactiva, de nunca ter apresentado uma proposta própria de cessar-fogo na Ucrânia, de nunca ter ousado enfrentar os Estados Unidos – nem na questão das tarifas, nem na exigência orçamental da NATO. (...)

Sem comentários:
Enviar um comentário