quarta-feira, 3 de julho de 2024

No Meio Da Confusão É Preciso Ver Para Além Do Que Se Pode Olhar ...


A agitação permanente em que vivemos leva muitos a desistir de encontrar referências mais adiante, mas é preciso que nos afastemos do tempo para assim encontrarmos a posição mais segura, elevando-nos acima dos momentos passageiros para os compreender melhor. .. estabelecer os alicerces sobre o que é sólido, ainda que seja preciso escavar muito mais fundo do que o normal... confiar sempre que há mais vida para lá desta. Que a nossa existência, tal como a conhecemos, é apenas um pedaço.

Lembra-te que não há tantas verdades quantas pessoas, há uma só verdade... e imensas mentiras, erros e imprecisões. Confia na verdade, ainda que não a possas ver ou compreender.

Não vás onde te levam as emoções. Nem vás para onde vão os outros. Constrói o teu plano com base na verdade que és, constrói-te... e sê feliz. Apesar de tudo.No meio da confusão é preciso ver para além do que se pode olhar.

(José Luís Nunes Martins)

terça-feira, 2 de julho de 2024

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (150)

O mais importante, e aquilo que está em causa tanto em França, actualmente, ou em toda a Europa é isto: o acto difícil de se querer ser humano em tempos de total apostasia social.   (Gonçalo Soares Jesus, OBSR)

Votar não pode ser tão só um favor do eleitorado, em formato de acto-resposta, quanto a um apelo desesperado de terceiros. Votar, e escolher em quem votar, tem de ser um acto oferecidamente ponderado, consciente, quanto a um programa político sério, discriminado, e não uma adesão quase tácita a uma súplica eleitoral exigida em grito de socorro provindo de cartazes rasgados a metades. (...)

O que se quer dizer, sem rodeios: apelar ao voto, por si ou por interposta gente, sem compromissos palpáveis que demonstrem paixão real pelo futuro humano, é não levar as pessoas a sério, o que as fará, inevitavelmente, entregar o seu destino a quem melhor apele e não a quem mais nelas pense. França, que explicitamente anuncia aquilo que se expandirá Europa fora, anuncia, ainda mais, que inexiste melhor altura para o futuro da democracia. Evidentemente, é tempo de tornar o mundo democrático mais íntimo e próximo do eleitorado. (...)

Aqui, precisamente, começa a salvação da democracia, ou de França, ou de Portugal, ou da Europa ou até da espécie: no encontro de um valor que se sobreponha aos gritos selvagens de uma vida sempre imposta por terceiros. Só a partir daí acontecerá o verdadeiro encontro do humano pelo humano, no seio do próprio humano, que passará a ser o que nunca foi: humano-humano.

Foi Tudo Muito Súbito


Foi tudo muito súbito
tudo muito susto
tudo assim como a resposta
fica quando chega a pergunta

esse meio assunto
que é quando a gente está longe
e continua junto

(P. Leminski)

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (149)

A França até pode brindar a esquerda com um resultado favorável no próximo domingo, com a soma dos votos macronistas, mas dificilmente quebrará a atual dinâmica do partido de Le Pen, que aponta às presidenciais. E com uma Europa a tremer, que dificilmente sobreviverá sem a França. (Eduardo Dâmaso, CM) 

A previsível vitória da extrema-direita na primeira volta das eleições arrasta muitas más notícias sobre o sistema político francês. O xadrez saído da II Guerra já tinha sido varrido pela queda dos comunistas, mais recentemente dos socialistas, agora dos gaullistas. Quando se apresenta em 2017, Macron já era um produto híbrido entre a tecnocracia financeira, a social-democracia e os restos de uma esquerda possibilista e desencantada com os ditos partidos tradicionais. (...)

Há Sem Dúvida Quem Ame O Infinito


Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo…

E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente: eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto me dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

(Fernando Pessoa, poesias de álvaro de campos
edições ática 1980)