É essa atitude anticientífica que está na base de um certo ateísmo militante e irracional, que alguns confundem com a verdadeira fé. Foi a essa falsa fé que Dostoievsky aludiu quando, referindo-se aos seus conterrâneos, disse que alguns tinham tanta fé que até eram ateus!
Embora a Igreja seja, por princípio, céptica em relação a milagres ou outros fenómenos sobrenaturais, até porque, nestas coisas, geralmente o que parece extraordinário raramente o é, não pode contudo deixar de neles crer, quando é a evidência científica que os impõe. O milagre é isso mesmo: uma constatação científica que a Igreja se limita a acatar e não uma imposição da Igreja de algo que, por se opor às leis científicas, é contrário à ciência e à razão. A fé cristã é racional: quem não acredita nos milagres que a ciência prova, opõe-se à razão e à ciência e, portanto, à fé.
Há muito boa gente que pensa que isto dos milagres é mais um artifício clerical para enganar as pessoas simples e as convencer a aderir à supersticiosa religião dos dogmas, dos mistérios e de outras indecentes superstições. Nada mais falso, até porque não é a Igreja, mas sim a ciência, quem acredita em milagres, porque a noção de facto extraordinário decorre da comprovação científica da inexplicável anormalidade de um fenómeno que, por contrariar as leis que regem a realidade, tem que ser forçosamente atribuído a uma intervenção sobrenatural. Só quem conhece, com rigor, as leis a que obedecem os fenómenos naturais pode, portanto, ajuizar uma tal excepção, pelo que a noção de milagre, mais do que religiosa, é essencialmente científica. ( continuar a ler aqui)
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