I - A comunidade científica está segura de uma coisa: levantar as restrições impostas para lidar com o surto leva invariavelmente a um aumento da quantidade de contactos entre pessoas, o que tenderá a fazer subir o valor do R ( número médio de pessoas que são contagiadas por cada pessoa infetada com o vírus). Por isso, duas coisas são importantes: antes de levantar qualquer medida, é preciso estimar o impacto que essa ação poderá ter nesta subida do R; ao mesmo tempo, é preciso garantir que o R não ultrapassa o valor de 1, para que a epidemia não saia do controlo do sistema de saúde.
Para muitos especialistas, o simples facto de o Rt se encontrar abaixo de 1 não é suficiente para que seja seguro levantar medidas de restrição. Peritos em todo o mundo, com a Noruega a surgir como principal exemplo, têm apontado para o valor de 0,7 como um requisito mínimo para que se comece a pensar no levantamento das restrições.
Na última sexta-feira, o coordenador da Unidade de Investigação Epidemiológica do INSA, Baltazar Nunes, confirmou o valor ao Observador. “Agora está à volta dos 0,9. É a estimativa que temos. Tem variado de região para região, mas tem andado à volta desses valores e sempre abaixo de 1”, disse o responsável. “Aumenta ligeiramente, desce ligeiramente, tem estado estável.”
Este fim-de-semana, porém, o valor voltou a subir. Pela primeira vez desde a descida que se tem verificado após o início das medidas de contenção, o valor do R tornou a subir acima de 1 — o que significa que a epidemia deixou de estar em sentido descendente, voltando o número de novos casos a estar em crescimento.
O valor médio em Portugal é agora de 1,04, havendo pequenas variações regionais: “0,99 na região Norte e 1,2 na região de Lisboa e Vale do Tejo”. Isto significa que cada português infetado está a contagiar em média 1,04 pessoas e que o número de novos casos tenderá a ser maior do que o número de casos atuais. Ou seja, a epidemia voltou a crescer.
Nota:O “R” — ou “número de reprodução” — de um vírus é um dos mais importantes indicadores que a comunidade científica monitoriza para perceber a forma como a epidemia da Covid-19 está a evoluir em cada país. De forma muito simples, o “R” significa o número médio de pessoas que são contagiadas por cada pessoa infetada com o vírus.Esta definição conduz a uma conclusão matemática muito óbvia: se o número for superior a 1, então a epidemia está a crescer ( cada infetado contagia, em média, uma outra pessoa e o número de casos futuros tenderá a ser maior do que o número de casos atuais); já se o número for inferior a 1, então a epidemia encontra-se a caminhar para o seu fim (cada infetado contagia, em média, menos de uma pessoa, com o número de novos casos a ser inferior ao número de casos atuais).
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