É preciso fazer caso disto: há um consenso geral de que Montenegro não cometeu um delito. É algo que tem de ser tido em conta num caso que porém não fica por aqui: numa interpretação benévola dir-se-á que a sua actuação foi de uma espantosa e muito intrigante imprudência política; numa análise severa evoca-se que a ética – valor obrigatório na terceira figura do Estado – o deveria ter impedido de ser tão estranhamente incauto. (...)
Não aconteceu assim. Uma vez estreada a história em papel de jornal, a quase totalidade da media mobilizou-se sem custo e as oposições galoparam sobre o maná. Aos zigue-zagues e num percurso sempre também sinuoso, foram-se seguindo incontáveis “esclarecimentos”, nomes, datas, detalhes, “explicações”. (...)
Mas é assim que estamos e estamos mal: de um lado, uma bolha animada pela suspeição activa e a acusação onde se misturam verdades, meias verdades, actos que tiveram lugar com factos que nunca aconteceram; do outro, um falso criminoso de delito comum, autor porém de uma trapalhada política – passível de falha ética – e que na última semana deu o seu consentimento a uma deplorável encenação partidária onde todos os erros políticos foram cometidos. Dá que pensar.
E nisto, podemos vir a correr o risco de assistir a uma campanha eleitoral que pressuponha – ou possa vir a pressupor – um julgamento “ético e moral” sobre a confiabilidade da figura do Chefe do Governo”. Ou pelo menos que se caia nessa tentação, um claro equívoco e um grosseiro erro. A questão é política.
Enquanto dura a valsa do já-esclarecido-mas-que-falta ainda esclarecer, o Primeiro Ministro continua, desde o primeiro dia e até a hora a que escrevoser tratado mediática e politicamente como um criminoso de delito comum. (...)
O combate é feroz, desabrido, desproporcionado. Irracional e a política detesta a irracionalidade.
Mas é assim que estamos e estamos mal: de um lado, uma bolha animada pela suspeição activa e a acusação onde se misturam verdades, meias verdades, actos que tiveram lugar com factos que nunca aconteceram; do outro, um falso criminoso de delito comum, autor porém de uma trapalhada política – passível de falha ética – e que na última semana deu o seu consentimento a uma deplorável encenação partidária onde todos os erros políticos foram cometidos. Dá que pensar.
E nisto, podemos vir a correr o risco de assistir a uma campanha eleitoral que pressuponha – ou possa vir a pressupor – um julgamento “ético e moral” sobre a confiabilidade da figura do Chefe do Governo”. Ou pelo menos que se caia nessa tentação, um claro equívoco e um grosseiro erro. A questão é política.
Ocorre-me isto por ter ouvido o Presidente da Republica. Um pouco ambíguo, uma no cravo, outra na ferradura mas… Mas pode ter escorregado a dúvida sobre que papel ele se atribui a ele mesmo nesta embrulhada em que detestou ter-se visto embrulhado. E daí, quem sabe, a tentação – ao de leve, de mansinho – de abrir um entre parêntesis, fazendo deslocar a instituição presidencial da sua primordial função política para uma vigilante da ética e da boa moral. (...)
Seja como for estamos sob vários aspectos e domínios perante a negação da política, mesmo que muitos rejubilem com o turvo ar deste tempo. Turvo como o perigo de por exemplo se saltar de uma campanha legislativa cuja natureza e propósito são políticos, para um patamar moral ou ético.
Dias perigosos, sim: para a política, a democracia, o país, os portugueses.
Seja como for estamos sob vários aspectos e domínios perante a negação da política, mesmo que muitos rejubilem com o turvo ar deste tempo. Turvo como o perigo de por exemplo se saltar de uma campanha legislativa cuja natureza e propósito são políticos, para um patamar moral ou ético.
Dias perigosos, sim: para a política, a democracia, o país, os portugueses.
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