Percebe-se que há uma neblina perigosa quando uma maioria de esquerda no Parlamento pretende silenciar os pequenos partidos; percebe-se que há uma neblina que desfoca o regime quando o PSD acha boa ideia passar os debates quinzenais com o primeiro-ministro a debate mensal, para diminuir os incómodos e ruídos perigosos e não expor tanto a sua própria fraca oposição; percebe-se que a neblina passa a muro opaco quando o presidente da Comissão de Transparência do novo Parlamento, Jorge Lacão, admite que as reuniões daquele órgão decorram à porta fechada.
Tudo isto se passou no Parlamento no primeiro mês de actividade - pode dizer-se que, pelo caminho que as coisas levam, a Assembleia da República está seriamente empenhada em dar uma má imagem e em continuar a aumentar o desprestígio da função de deputado - situação que, pelos vistos, não desagrada aos próprios.
Se juntarmos a isto a ideia deixada no ar por António Costa de que os impostos indirectos poderiam subir, de que há planos de um englobamento que é apenas um eufemismo para aumento do IRS, e se ainda juntarmos as notícias sobre a continuação de dificuldades financeiras na saúde e transportes, temos uma ideia do que prometem ser estes quatro anos da legislatura agora iniciada: areia lançada à ventoinha para iludir os incautos, uma sucessão de promessas feitas em ano eleitoral que, de repente, entram na zona de amnésia do poder e que, na realidade, nunca foram anunciadas com a ideia de serem cumpridas.
Chegámos ao ponto em que o engano é a arma da política e a ocultação a máscara dos políticos. O mais engraçado de tudo é que o efeito desejado - e que até aqui tem sido bem conseguido - é que aumente o desinteresse pela política, para que sejam cada vez menos os que votam, de forma que os eleitos sejam cada vez menos representativos e cada vez menos alvo de escrutínio.
Fonte: Manuel Falcão, J Negócios
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