sexta-feira, 8 de outubro de 2010

As Piruetas de Sócrates

No que toca ao ano de 2011, o mundo não mudou: deu uma pirueta tal que "convenceu" finalmente o primeiro-ministro a anunciar medidas que ele, no mundo em que vivia, sempre negou que tomaria.

O preço desse convencimento tardio? Não existe. No seu mundo, o que conta são as responsabilidades dos outros: dos mercados, dos partidos da oposição, das previsões pessimistas, dos trabalhadores insatisfeitos, dos comentadores que o criticam e, por aí fora, numa lista infindável de culpados da qual, obviamente, ele não faz parte.

No seu mundo, o engº Sócrates é apenas, na sua infinita clemência, uma vítima das circunstâncias, ou seja, uma vítima do mundo onde não vive há muitos e bons anos. Infelizmente, esse mundo que tanto o surpreende, obrigando-o a dar, todos os dias, o dito por não dito, é aquilo que muito prosaicamente se chama realidade – e a realidade, como já deu provas mais do que suficientes, não se compadece com os "convencimentos" do primeiro-ministro.

Assim sendo, é natural que as garantias do primeiro-ministro se tenham transformado, com o tempo, numa série de palpites que têm o condão de nunca se realizarem. De palpite em palpite, de desastre em desastre, o engº Sócrates vai afundando o país num rol de medidas de austeridade, tomadas a eito, por imposição da União Europeia e dos mercados internacionais, sem que se consiga descortinar nelas uma linha de rumo minimamente credível.

Por junto, o primeiro-ministro limita-se a garantir que o crescimento do PIB se vai manter em 0,5 por cento apesar de reconhecer o efeito recessivo das medidas que anunciou. Um palpite, aliás, que já foi desmentido pelo FMI e pelo Banco de Portugal. Como seria de esperar.

Constança Cunha e Sá,CM

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