Se há tema transversal a tudo o que escrevo, e estruturante de tudo o que penso, é a liberdade.
A liberdade e a democracia não são a imposição de um pensamento único e iluminado a toda a sociedade, por muito bem intencionado que seja.
Um dos passos decisivos para a instituição dos totalitarismos é a investidura formal das polícias de costumes. As comissões de regulação, os comités, os institutos de fiscalização, podem ser os braços do Estado na “normalização” almejada. A definição “superior” do pensamento por gente não legitimada, por alguma academia artificial e por mandato político e ideológico, resulta invariavelmente num divórcio entre o rumo imposto e a realidade, entre o ideal e a normalidade, entre a norma imposta e a liberdade.
Em Portugal, a cavalgada do chamado politicamente correcto tem sido alucinante. A cada esquina, onde antes havia um informador da PIDE, há hoje um militante da ILGA, um crente do Bloco, um apóstolo da igualdade de género, um criativo do racismo, um fundamentalista dos animais, um mata-frades ou um soldado da inclusão à força. As frentes são diversas, o objectivo é só um: a imposição do pensamento único. Para esta brigada, devidamente protegida e legitimada pela fragilidade política de Costa, quem pensa diferente, pura e simplesmente, não pensa, não tem direito a expressar as suas opiniões porque são dignas de um troglodita, não tem direito a liberdade de acção porque é medieval, não tem direito a falar se não viu e compreendeu a luz que irradia dos Boaventuras e demais jacobinos do regime.
O regime iluminado, os seus mais diversos agentes, a liberdade da escolha única que advoga, a rejeição e o desrespeito pelo acto de pensar livremente, erradamente dizem eles, está a criar uma coisa nova; não lhe chamo sociedade, para evitar a contradição nos termos. Está a fazer na Europa o que outros num passado mais ou menos recente não conseguiram. Está a cumprir a profecia de Bradburry em Farenheit 451 com eficácia inusitada.
(Excertos do artigo de Raúl Almeida, 'O regime iluminado',no JE)
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