A debilidade da América não está tanto na ascensão de uma Potência rival, mas reside no vácuo de poder que a América deixa por onde passa. (Carlos Marques de Almeida, ECO)
Um atentado suicida é uma festa, uma celebração em que se diz adeus à esperança e onde os escolhidos praticam o massacre das multidões. São como sacerdotes no templo dos infiéis e que usam a porta das orações para rebentar até aos céus todos os que rejeitam. Explosivos, carros armadilhados, kalashnikovs, e o puro arbítrio do ódio e da desumanidade. No caos de Kabul infectado pela derrota de uma aventura de vinte anos, o aeroporto é o alvo de todos as câmaras e de todas as conspirações, o aeroporto é o último posto Ocidental na direcção do qual converge o desespero, o medo, o pânico dos afegãos que um dia acreditaram na Democracia ou nos Direitos Humanos ou em qualquer coisa que lhes devolvesse a banalidade e a prosperidade de uma vida normal. Alguém tem notícias do Livreiro de Kabul?
Finalmente o Presidente dos Estados Unidos fala à Nação e dirige-se ao Mundo. É uma figura frágil, marcada pela emoção e pelas muitas memórias, mas não é o Presidente de uma América confiante, consagrada, vitoriosa, virtuosa. É o Presidente de uma América humilhada, enfraquecida, em retirada, o Presidente que não encontra uma frase histórica para assinalar o momento histórico, o Presidente que não consegue inspirar a Nação Americana, o Presidente que não devolve confiança ao Mundo e aos Aliados. Com um minuto de silêncio é o Presidente que transforma uma sala da Casa Branca numa extensão simbólica do Cemitério Militar de Arlington. Percebe-se a boa intenção, mas regista-se o alcance do gesto político como a projecção de um momento de fraqueza – o Império a sangrar no coração dos Marines mortos. Não há ameaças que possam apagar esta imagem e esta ideia.
As Torres Gémeas acabaram por colapsar em confronto com uma ideia e um plano pensado e saído do Afeganistão. Este é o princípio da história. Mas ainda não é o fim da história. A debilidade da América não está tanto na ascensão de uma Potência rival, mas reside no vácuo de poder que a América deixa por onde passa. E numa perigosa ausência de uma vontade de Poder.
(excertos do texto de Carlos Marques de Almeida no
ECO)
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