Há um problema, um escândalo, uma sentença ou um acórdão de que se não gosta ou que dá polémica?
Há um crime que impressiona, um caso que indigna, uma vaga de insegurança, um sentimento de intranquilidade?
Ou há qualquer outra coisa que altera o remanso dos dias (o que acontece quase todos os dias, aliás, ao ponto de o remanso ser já quase um vestígio arqueológico)?
Então, faz-se uma lei, muda-se uma lei, aperfeiçoa-se uma lei. Ou dá-se-lhe uns toques, mais dureza, mais 12 vírgulas ali e meia dúzia de pontos de exclamação aqui, dois pontos finais a menos ou a mais, muda-se aqui, tira-se acolá. Ou substitui-se mesmo a dita, que a culpa é sempre da lei - ou porque falta, ou porque abunda, ou porque está manca e precisa de correção ortopédica. O que há a fazer é, sempre, mexer na lei, alterar a lei, fazer lei, matar lei. E rapidamente e em força, e fazer alarido disso, porque os tempos vivem da rapidez e da propaganda.
Há um problema, não gostaram disto ou daquilo, há quem rasgue as vestes e exclame, grite ou murmure?
Não se preocupe o bom povo que já há lei no forno, está a sair. E pronto, dormi descansados, que o legislador vela por todos, ámen.
E depois admirem-se da manta de retalhos, da confusão legislativa, da precipitação, dos buracos, das soluções tortas. E não estou a agourar, não é mau-olhado, muito menos quebranto. São só vários anos de experiência e de observação. E não preciso de nenhuma benzedura. E ainda menos de tanta alteração na lei. Cruzes. Sossega, meu pajé!
(Excertos do artigo de Rui Patrício, Ji)
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