Seja pelo que a imigração, em certas condições, pode trazer consigo. Seja pelas reacções de tantos europeus contra a imigração. Nenhum país europeu tem actualmente uma política mais ou menos consensual (pelo menos clara, durável e maioritária) relativamente à imigração, nem os países europeus se conseguem entender entre si para uma política comum. A imigração é um dos grandes factores de divisão nacional e da Europa.
A imigração em Portugal tem sido objecto de debates esporádicos, mas de conclusões erráticas, geralmente dominadas pelas questões políticas e europeias. Verdade é que Portugal não se pode orgulhar de ter uma política de imigração conhecida e estável. Navega ao sabor das primeiras páginas e das emoções das fotografias publicadas.
Há hoje, como revelam o Eurostat, o INE e o El Pais, suficiente evidência dos efeitos positivos da imigração para os países de acolhimento. A renovação demográfica contribui para o rejuvenescimento da população. A variedade da mestiçagem é um elemento positivo para a abertura das sociedades. A imigração está directamente ligada ao desenvolvimento social e económico e contribui para o aumento da produção, do rendimento e do crescimento, assim como para o reforço da segurança social.
Há estatísticas suficientes em toda a Europa que mostram como os imigrantes, em geral, deram um enorme contributo para o crescimento económico. Sem eles, muitos dos países europeus teriam crescido, desde os anos 1980, menos 20% a 30% do que realmente cresceram.
Há também, para os países de acolhimento, sinais de efeitos negativos da imigração. Agrava o descontrolo dos movimentos de população. Está muito ligada ao tráfico de mão-de-obra. Permite com frequência uma excessiva exploração salarial e laboral. Provoca reacções de recusa, assim como estimula o preconceito e o racismo de ambos os lados. É fonte de conflitos étnicos e religiosos. Favorece a coexistência conflituosa de dois ordenamentos jurídicos ou de duas legalidades rivais. Permite facilmente a criação de verdadeiros guetos. Encoraja o confronto violento de costumes contraditórios.
Tudo leva a crer que, para evitar problemas graves, seja necessário controlar, tanto quanto possível, os fluxos migratórios; estabelecer quotas indicativas de imigrantes, segundo as origens e as profissões; ser extremamente firme na repressão à imigração ilegal e só tolerar a legal; castigar severamente todas as redes de tráfico de trabalhadores; reduzir à verdade a noção de refugiado político.
Parece impor-se a recusa da política de portas abertas, receita para enormes desastres políticos, como se vê em vários países europeus. Assim como a recusa da política da fortaleza fechada, prejudicial para a demografia, a economia, a cultura e os valores da liberdade.
Será Portugal, serão os países europeus e será a Europa capazes de evitar o fanatismo dos defensores da imigração e a intolerância dos inimigos dos imigrantes? Verdade é que já há no mundo democracias ameaçadas ou suspensas nas quais a questão das migrações é central. Não faltam a violência e os muros. Não é só entre os Estados Unidos e o México, entre Israel e a Cisjordânia, entre a Hungria e a Sérvia ou entre a Macedónia e a Grécia. É também na Polónia, na França, na Itália, na Turquia, na Rússia, no Brasil ou na Colômbia. Se não nos adiantamos, chegará também, um dia, a nossa vez!
Grande Angular - Imigrantes, Público, 17.11.2019, via Jacarandá (excertos)
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